Eram 18h de segunda-feira, 8, quando Claudia Campos, mulher de Champignon, do Charlie Brown Jr., se emocionou ao lembrar do músico. "A essa hora, no ano passado, estávamos deitados de conchinha e estava tudo bem", diz ela.
A ausência do marido ainda é muito dolorida para Claudia, mas ela mostra uma força surpreendente. Nesta terça, 9, completa-se um ano desde que o músico cometeu suícidio no apartamento em que o casal morava, em São Paulo. Na época, Claudia estava grávida de cinco meses da primeira filha do casal, Maria Amélia. "Só o amor é real. E o amor salva. Ainda estamos ligados mais do que nunca por nossa filha, que nasceu a cara dele", conta ela. Durante entrevista ao EGO, Claudia pede para que Champignon seja lembrado pelo jeito alegre que tinha. "Aquela risada gostosa, alta... O jeito carinhoso... Um cara divertido, que inventava apelidos e fazia todo mundo se sentir querido", reforça, afirmando que o suicídio do marido esteve diretamente ligado à morte de Chorão.
Como você tem feito para conseguir superar a morte de Champignon?
As pessoas me perguntam como tenho conseguido superar tendo um amor assim. Primeiro porque sou espírita. Ele também era, então ele tinha muito entendimento sobre o ato que ele cometeu, sobre o que aconteceria. Houve muitas influências espirituais que eu senti na pele, ele estava sobrecarregado com influências espirituais do mal. Acho que quem atingiu o Chorão quis derrubar o Champs. Ele se transformou muito depois da morte do Chorão. Ele foi sucumbindo, sabe? Foi ficando irritado, uma ira. Não conseguia dormir. Aí eu engravidei e ele ficou muito feliz, mas ele dormia muito... Eu cuidava dele, que estava exausto com tanta pressão. Ele ficava revendo as coisas e tudo aquilo mexia muito com ele.
Você acredita que a morte do Chorão tem a ver com a morte do seu marido?
Teve influência. A morte do Chorão foi a morte do Champignon. Quando o Chorão morreu, ele escreveu um texto em lágrimas. Ele falou que era uma carta, uma música, e chamou de "Carta a Deus". E é muito reveladora. Pra mim é uma carta de amor.
Como o Champignon reagiu à morte do Chorão?
Ele tinha picos de raiva e tristeza. "O cara não podia fazer isso com a gente". Chorava.... Aí montaram A Banca (banda em que Champigon assumiu os vocais). Ele se fragilizou tanto com dor, raiva, revolta, em querer fazer e acontecer em pouco tempo, uma pressão, fãs que não compreenderam.
Os fãs cobraram muito depois do episódio da briga pública entre o Chorão e o Champignon (em 2012,
Chorão teve uma discussão em cima do palco com Champignon durante show no Paraná)?
Eu acho que foi ali que a história começou a ficar pesada. Foi no dia 8 de setembro de 2012 (exatamente um ano antes de Champignon morrer). Eu me pego perguntando se ele não assimilou, porque pra mim depois do episódio da humilhação no palco, ele foi outra pessoa. Aquele cara alegre ficou pensativo. "Tem um milhão de views o vídeo no YouTube", ele falava. Isso mexeu muito com ele. Ele foi um lorde por não ter reagido, mas ficou mal com com aquilo tudo.
Eles não se davam bem?
Eles sempre tiveram problemas. O Champs me contava. Eles tinham muito amor. Mas era uma relação de amor complicada. O Chorão tinha 20 anos e o Champignon, 12. Ele era uma criança, brincava de carrinho e ia ensaiar. O Chorão o botava no colo e falava: "Esse aqui é meu protegido. Esse moleque vai tocar na minha banda, ele toca demais". Acho que não rolou um perdão apesar do vídeo que gravaram depois se desculpando. Existia muito amor e admiração, mas muita falta de perdão verdadeiro acredito eu, pelos problemas do passado.
Você notou que ele estava deprimido?
A gente nunca percebe, né? Percebia que estava agoniado, não triste, mas era muita pressão. Muitos fãs se voltaram contra A Banca. Mexia com ele. Ele não entendia até porque o Chorão, antes de desencarnar, falou:"Gente, preciso de férias, mas a banda não pode parar. Champs, você vai assumir os vocais um tempo. Você é o único cara que pode cantar no meu lugar". E o Champs ficava "Não cara, você vai continuar". Aí quando aconteceu a morte do Chorão, ele tomou a decisão de cantar. E os outros caras da banda estavam de acordo, ouviram o Chorão dizer isso. Foi uma das últimas coisas que eles se falaram.
Como você e o Champignon se conheceram?
Foi na casa de uma amiga em comum em 2008. Cheguei lá e ele estava dormindo no sofá. Aí ele acordou e falou: "Você que é a amiga cantora da Mary?" Começamos a conversar, ele falou que era músico também e eu nem conectei. Ele falou na maior humildade que era de uma banda, Charlie Brown Jr, tocava baixo... Fomos pra cozinha fazer uma caipirinha, resolvemos sair pra comprar algo no mercado e, no carro, tinha um CD da Ella Fitzgerald. "Nossa, você ouve isso?". Aí começamos a falar de música.
Foi amor à primeira vista?
Nos arrepiamos em um certo momento, até comentei. "Nunca senti isso antes". e ele; "Eu tô todo arrepiado também". Foi inexplicável. Ele foi pegar o violão no carro, começou a compor uma base e falou pra gente fazer uma música. A letra foi vindo na minha cabeça, deixei fluir e hoje faz todo o sentido. Fala de alma, que quero um amor igual ao seu, quero sentir seu corpo de novo, sua alma entrando em minhas veias. É muito espiritual. Depois dessa música ficamso muito envolvidos. Nós cancelamos todos os compromissos e ficamos 84 horas grudados. Compondo, nos amando, fazendo planos já, sabe? Depois de um tempo, quando a gente se separou, fiz uma música que se chama "84 horas" e foi o que nos reaproximou. Toda nossa história é permeada pela música.
O que lhe dá força?
O amor pela minha filha, que estava no meu ventre. O amor por ele, que precisava muito me sentir bem para que isso o ajudasse na recuperação dele no plano espiritual. Eu sinto que estou dando força para ele. Eu sabia que precisava manter minha vitalidade para continuar minha gestação.Só o amor é real. E o amor salva. Ainda estamos ligados mais do que nunca por nossa filha, que ainda nasceu a cara dele.
Você já disse que nada de pior pode acontecer...
Acho que é meio pretensão falar isso. Não posso imaginar acontecer algo com minha filha. Mas eu não vi nem em filme o que aconteceu comigo. Uma história de amor tão intensa. Éramos muito apegados, não ficávamos mais de três horas sem nos falarmos. Hoje eu sinto uma dor ainda, mas é de saudade, não de desespero. Queria pegá-lo, dar um abraço, beijá-lo (ri). Eu sei que a minha superação é a superação dele. Se eu tivesse me perdido, prejudicaria muito mais o processo de cura dele. Hoje eu o sinto amparado num plano superior, inclusive pela avó dele. E ele tem uma missão a seguir, eu também, em planos diferentes. Até o dia em que a gente vai se encontrar de novo.
Você consegue pensar em se casar novamente?
Não. É muito recente. Não digo que não vá acontecer. Minha filha vai me pedir isso. Mas o amor dela me supre. Eu tenho um pedaço dele comigo. Eu não tenho pressa. Já tive o grande amor da minha vida.
Como você quer falar do Champignon para a filha de vocês?
Eu vou só exaltá-lo. Ela é resultado de um grande amor. Ela foi muito cortejada, esperada. E o pai dela foi um ser humano brilhante. O desfecho foi o o desfecho, de fragilidade e de loucura, decorrente de tantas pressões e lutos que ele tinha de lidar. Mas eu sempre vou falar pra minha filha o ser humano incrível que ele foi, o homem que me fez mais feliz.
Como foi esse casamento?
A gente foi muito feliz. Criamos um projeto musical chamado "Boss le Champ", unindo meu sobrenome ao dele, que sonhávamos realizar paralelamente ao Charlie Brown. Seria um trabalho mais voltado pra fora do Brasil, era um sonho dele viajar tocando um som diferente, com uma veia mais jazzista. Ia ser uma coisa bem acústica. A gente tinha ideia de colocar sopro, mas não chegamos a concretizar. Enfim, eram muitos projetos juntos. E um filho, né? Ele dizia: "Meu Deus, quero muito um outro filho. A gente precisa ter um filho, imagina um filho do nosso amor!". Acabou que o legado ficou comigo. Tomei isso como minha missão.
Você pretende levar esse projeto adiante?
Sim, tenho muito material que não posso guardar só para mim. Gostaria de fazer um documentário, algo que eu possa mostrar esses vídeos dele tocando, os pensamentos que ele deixou escrito, enfim.. Vou fazer em nome do nosso amor e da nossa filha. Sei que é isso que ele quer de mim, que eu siga o legado. Me sinto privilegiada por ter vivido um amor desses tāo cheio de parceria, amizade, música e amor. Ele viveu intensamente e sei que conheceu o amor de verdade. Eu posso dizer o mesmo de mim. Tenho muita sorte, e uma grande missāo pela frente, que é ser māe da Maria Amélia, e manter a obra dele viva em nome do nosso amor, da nossa filha e dos fās dele, que merecem ouvir tantas obras inéditas e linhas de baixo indescritíveis. A vida segue. E sei da minha missāo nessa vida.
Por: Bárbara Vieira do EGO, em São Paulo
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